Frei Demétrio Beldí de Dueville
15.12.1910 - Dueville/Itália
31.07.2000 - Conegliano/Itália
Nascido aos 15 de dezembro de 1910, em Dueville, na diocese de Vicenza, Itália, Natal Isaías Beldi é filho de Isidoro Beldì e de Maria Pertegato. No dia do Natal do mesmo ano, na igreja matriz de Dueville, recebeu o batismo, onde também foi crismado aos 31 de agosto de 1916, pelo bispo Dom Rodolfo.
Foi admitido ao seminário de Rovigo, na Província de Veneza, aos 02 de setembro de 1922, pelo diretor Frei Miguel de Mason. Terminada a primeira fase de estudos, iniciou o ano de noviciado no convento de Bassano del Grappa aos 5 de maio de 1926, sendo seu mestre Frei Rufino de Cadore e Ministro provincial Frei Vigílio de Valstagna. No ano seguinte, aos 05.05.1927, emitiu sua primeira profissão nas mãos do Ministro provincial Frei Vigílio de Valstagna.
Estudou filosofia e teologia em Thiene (1928), em Pádua (1929-1930) e em Veneza (1931-1934). Durante os estudos teológicos, emitiu sua profissão perpétua em Veneza aos 25 de dezembro de 1931 em cerimônia presidida por Frei Paulino de Premariacco, sendo Ministro provincial Frei Jacinto de Trieste. Preparou-se ao sacerdócio recebendo a Tonsura (19.09.1931) na Basílica de Nossa Senhora da Saúde do cardeal Pedro La Fontaine; o Ostiariato e Leitorato (19.12.1931) na capela do palácio patriarcal de Veneza do mesmo cardeal La Fontaine; o Acolitato e Exorcistado (12.03.1932) na Basílica de São Marcos em cerimônia presidida pelo Cardeal La Fontaine; o Subdiaconato (17.03.1934) e o Diaconato (25.07.1934) na igreja dos capuchinhos do Santíssimo Redentor também das mãos do Cardeal Pedro La Fontaine. Nos esplendores da Basílica de São Marcos, em Veneza, foi ordenado sacerdote (22.12.1934) pelo cardeal Pedro La Fontaine, sendo Ministro provincial Frei Jacinto de Trieste.
Sua vida missionário iniciou logo após o término de seus estudos. Aos 4 de maio de 1935, recebeu do Ministro geral a obediência para trabalhar na Missão do Paraná e, aos 15 de junho de 1935 embarcou no navio Oceania, em Nápoles, com os freis Damião Girardi e Ciríaco Coatti, rumo ao Brasil. Aos 28 de junho de 1935, os freis desembarcaram no porto de Santos, São Paulo e, passados alguns dias, já se encontravam entre os confrades do Paraná em Curitiba (02.07.1935).
Frei Demétrio permaneceu em Curitiba para aprender a língua e, no mesmo ano, foi destinado (02.09.1935) para Jaguariaíva onde iniciou sua vida missionária como vigário paroquial, sob a guia de Frei Irineu de Pádua onde aprendeu mais a língua, os costumes do povo e a realidade brasileira. Desempenhou sempre atividades pastorais nestes campos missionários: Jaguariaíva (1935-1936; 1946), Curitiba (1936-1938) percorrendo as capelas de Almirante Tamandaré e Votuverava, Joaquim Távora (1939), Congonhinhas (1940-1942), Tomazina (1943-1946), Cerro Azul (1946-1955), Ribeirão do Pinhal (1955-1961), Barracão (1961-1962), Reserva (1962-1963), Rio Branco do Sul (1964), Mandaguaçú (1965), Siqueira Campos (1966) para tratamento de saúde, viajou à Itália onde permaneceu de 1966 a 1969, Capitão Leônidas Marques (1969-1970), Linha Sete (1971-1974), Butiatuba (1975), Santo Antônio da Platina (1976-1979), Butiatuba (1980-1981) e em Tomazina (1981-1985). Aos 3 de junho de 1985 regressou à Província de Veneza, Itália, onde permaneceu até seu falecimento. Em todos esses lugares trabalho como vigário paroquial e pároco.
Além de sua atividade apostólica em diversas paróquias e inúmeras capelas rurais, Frei Demétrio apresenta longo elenco de atividades materiais.
De 1936 a 1939, percorreu a cavalo mais de 40 capelas na vasta e difícil região do Açungui e Votuverava e reformou a igreja de Campo Magro e adquiriu o terreno para o cemitério local.
Em Joaquim Távora (1939), auxiliou o pároco Frei Leonardo de Fellette e ampliou a casa paroquial. Em Quatiguá iniciou a bela igreja, em estilo românico, com a casa paroquial. Em Congonhinhas (1940-1942) construiu a casa paroquial e adquiriu 30 alqueires para as obras paroquiais. Em São Jerônimo da Serra edificou diversas capelas. Em Uraí, lançou os alicerces da igreja matriz e comprou terrenos para a casa e obras da igreja. Em Assaí, adquiriu o terreno e construiu a casa paroquial. Em Jataizinho renovou a igreja construída, na metade do século 18, pelo capuchinho frei Timóteo de Castelnuovo.
Muitas atividades marcam sua estadia na paróquia de Tomazina (1942-1946). Em Ibaiti, escolheu e comprou o terreno para a construção da igreja e da casa paroquial. Em Japira, comprou terrenos e iniciou a igreja. Em Pinhalão, adquiriu o terreno e levantou a casa paroquial e a igreja de madeira. Em Jaboti, comprou o terreno, construindo a casa e renovou a capela. Em Maria Souza, construiu a capela. Em Lavrinhas, reiniciou os trabalhos da capela e, em Eusébio de Oliveira, construiu a capela.
Rica de atividades apostólicas e materiais foi também sua estadia na paróquia de Cerro Azul (1946-1954): rodeou a igreja matriz com calçamento, colocou ladrilhos no seu interior, reformou a sacristia e a casa paroquial e construiu o salão paroquial.
Em Linha Sete, Santa Catarina, construiu as capelas de Linha Vitória, Leãozinho e Banhadão. Em Ribeirão do Pinhal (1955-1961), outras obras resultaram de sua criatividade: acabamento da igreja, aquisição do hospital público, vinda das Irmãs de Caridade, escrituração dos terrenos, terrenos para a Província, bolsas de estudo, ensino religioso no grupo e ginásio, construção de três casas para operários.
Em Barracão, onde permaneceu um ano (1961), mobiliou a casa paroquial, organizou as capelas e continuou a igreja matriz. Levou avante outras obras como em Reserva (igreja matriz e casa paroquial), em Rio Branco do Sul (compra de lotes, creche e grupo escolar), em Mandaguaçú (legalizou o terreno em Guadiana), em Abatiá (prosseguiu a construção da casa paroquial).
Um fato que o marcou até a morte foi quando se viu, de um dia para o outro, na cadeia. Era o ano de 1943. O presidente Getúlio Vargas sofreu um atentado, que quase lhe custou a vida. Em todo território nacional foram organizadas ações de graças. Nesse tempo, Frei Demétrio trabalhava em São Jerônimo da Serra e Congonhinhas. Os representantes do governo vieram pedir-lhe a celebração de uma missa em ação de graças às 10h de 7 de setembro (domingo). Neste dia, celebrava-se no local a festa de Nossa Senhora Aparecida com missa solene, marcada e programada há tempo, para a mesma hora. Frei Demétrio propôs fazer a festa no dia marcado e celebrar a missa de ação de graças em outro dia. Não adiantaram as explicações. No fim, frei Demétrio foi preso e acusado como quinta coluna e levado preso a Curitiba. O arcebispo de Curitiba e frei Tarcísio de Bovolone muito se interessaram pela libertação do frei e o conseguiram. Finalmente, frei Demétrio foi levado ao palácio do arcebispo onde encontrou nosso frei Tarcísio. Assim ele termina seu longo relato: «Chegamos ao convento de Nossa Senhora das Mercês. Fomos recebidos pelo barulhento Frei Irineu Giacon de Pádua, guardião. Oh, que felicidade! Agora podia descansar, dormir e morrer»
Aos 07.11.1983, a Câmara municipal de Ribeirão do Pinhal aprovou, por unanimidade e talvez em reparação à ofensa recebida, a concessão do título de Cidadão Honorário de Ribeirão do Pinhal ao frei Demétrio Beldì.
Após seu retorno à Província-mãe de Veneza (03.06.1985), permaneceu alguns anos em Bassano del Grappa, onde funciona a pré-enfermaria da Província. Neste ano de 2000 foi transferido para a enfermaria provincial em Conegliano Vêneto, onde faleceu aos 31 de setembro de 2000. Foi sepultado no cemitério de Dueville, onde nasceu e viveu seus primeiros anos.
Frei Demétrio viveu toda sua vida no apostolado paroquial. é louvável e admirável seu espírito de sacrifício e amor pelas almas, enfrentando inúmeras dificuldades para atender o povo de Deus, em qualquer lugar onde fosse necessário. Quem o conheceu lembra que, quando passava alguns dias nas fraternidades grandes, participava assiduamente da oração comum. Tinha um espírito alegre e vivaz e, às vezes, sua alegria misturava-se com expressões perspicazes, bem expressas pelo seu olhar. Sofreu muito por causa de sua prisão. Com freqüência recordava o fato, que o marcou. Escreveu dois relatórios com muitos detalhes interessantes sobre parte de sua vida.