* 20.05.1916 – Valle de Reana/Itália
† 17.06.2006 – Butiatuba/PR
Frei Nereu José Bassi faleceu aos 17.6.2006 e foi enterrado aos 18.6.2006, domingo, em nosso cemitério de Butiatuba.
Frei Nereu José Bassi nasceu em Valle di Reana (Itália), filho de Luiz Bassi e de Emília Croato. Padre José Venuti batizou-o aos 20.5.1916 na igreja São João Batista de Valle di Reana, sendo crismado na mesma igreja aos 22.11.1924 e, nesse mesmo dia, fez a primeira comunhão. Após ter iniciado os estudos primários em escolas da prefeitura em Valle di Reana, terminou-os no Seminário (1924-1928).. Em Rovigo e Verona completou o primário e o curso ginasial (1929-1934). Em Bassano dei Grappa fez o noviciado (1935-1936); filosofia em Pádua (1936-1939) e o primeiro ano teológico em Údine 1939).
Missionário
Foi destinado ao Brasil logo após o primeiro ano de teologia pelo Ministro Provincial frei Jerônimo Bortignon. Partiu de Nápoles com o navio Oceania aos 12.12.1939, com frei Luís de Bassano e frei Tito Olivetto. Chegou ao porto de Santos (Brasil) aos 27.12. 1939 e, em Curitiba, aos 31 do mesmo mês. Permaneceu no convento das Mercês, onde fez o 2º, 3º e 4º de teologia, sendo ordenado sacerdote aos 30.11.1941, por Dom Ático Eusébio da Rocha, na catedral metropolitana de Curitiba.
Primeiras atividades
Terminados os estudos, foi enviado para o seminário de Barra Fria-SC (2.2.1942), hoje Lacerdópolis, que tinha sido inaugurado nesse mesmo ano. Exerceu o cargo de vice-diretor do seminário, professor, vigário paroquial e reitor da igreja de Lacerdópolis. Em seguida, trabalhou em Santo Antônio da Platina (1946), Congonhinhas (1947), Irati (1948), Curitiba (1952), Ponta Grossa como Custódio Provincial na igreja Imaculada Conceição (1954), Londrina (1958), Curitiba (1967), Butiatuba (1975), Campo Magro (1987). Desde 1996 permaneceu no convento das Mercês, em Curitiba, em tratamento e atendendo confissões.
No apostolado, as maiores dificuldades que encontrou foram em Congonhinhas onde devia atender paróquia imensa, viajando a cavalo. Por causa das distâncias, frei Nereu comprou, com licença do visitador frei Paulino de Premariaco, uma motocicleta para o apostolado. Isso em 1947. Sempre se deu bem com o povo, desde o mais simples até às autoridades municipais e estaduais. Nos diversos lugares onde trabalhou, lutou para o bem do povo, não se cansando de falar com autoridades para envolvê-las em trabalhos de promoção humana.
Em Irati, construiu as torres, a escadaria da frente, colocou o ladrilho na igreja Nossa Senhora da Luz, a porta central definitiva e fez calçadas. Antes de acabar a segunda torre e o reboco da fachada da igreja, frei Nereu foi transferido para Curitiba, assumindo o cargo de pároco das Mercês.
Em Curitiba, frei Nereu e os freis que o auxiliavam deram mais vida aos movimentos eclesiais; iniciaram as visitas do Menino Jesus no tempo de Natal às casas de crianças e concentração das mesmas e diversas outras iniciativas pastorais. Com suas insistências e a ajuda de Milton Anselmo da Silva, frei Nereu conseguiu fazer rebaixar a Avenida Manoel Ribas e seu asfaltamento; liberar no porto de Paranaguá e trazer até as Mercês os sinos doados pela família Lupion.
Custódio Provincial
No período em que foi Custódio Provincial (17.7.1954-20.12.1957), a Custódia, segundo escreveu o mesmo frei Nereu, “estava bem espiritualmente, mas apostolicamente muito dispersa por falta de pessoal”. No setor da economia, encontrou dificuldades por causa das dívidas contraídas com a construção do Seminário Santa Maria, em Riozinho-PR, mas conseguiu, com muito sacrifício, deixar tudo em dia. Reforçou algumas fraternidades com mais frades e insistiu muito nos retiros anuais. Foi durante seu governo que frei Zacarias de São Mauro (Ministro Provincial de Veneza) visitou a Custódia, que foi dividida, pela primeira vez, em setores. Iniciou também o primeiro folheto vocacional com o título “Jardim Seráfico”. Adquiriu de escola, fundada por frei Ambrósio Canato (pároco de Mandaguaçu-PR) uma tipografia, que foi levada e montada em casa ao lado do convento Imaculada Conceição (Igrejinha), em Ponta Grossa. Passados alguns anos, as atividades tipográficas cessaram. Em Capinzal/Ouro- SC, comprou um terreno de Marcos Penso para futuro seminário. Com o visitador frei Zacarias organizou juridicamente nossa entidade com o nome “Missionários Capuchinhos do Paraná e Santa Catarina”.
Noviciado
Quando foi eleito Custódio, o noviciado funcionava, com dificuldades, em Barra Fria-SC. Inicialmente, houve tentativas para construir novo prédio em Barra Fria, mas a ideia de construir um convento em Siqueira Campos prevaleceu porque naquela região não havia nenhum convento. A construção foi feita em terreno, doado e comprado do sr. Joaquim Carvalho. Em pouco tempo o prédio estava pronto para receber os primeiros noviços. A casa tomou-se também o ponto de referência para reuniões e retiros dos freis que trabalhavam no norte pioneiro.
Londrina
Quando frei Nereu terminou seu mandato de Custódio, foi enviado à Londrina aos 30.1.1958 para instalar a primeira casa dos capuchinhos naquela cidade. Como não tínhamos casa, hospedou-se com os padres Xaverianos. Chamado pelo então bispo, Dom Geraldo Fernandes, este lhe disse que procurasse o lugar para os capuchinhos na região do aeroporto. Primeiramente pesquisou andando de charrete. Em seguida, com a ajuda de helicóptero e de um carro, emprestado por Antônio Vicentini, encontrou uma serraria na região, cujo dono, após os primeiros contatos, ofereceu o terreno, onde mais tarde foram construídas a igreja paroquial e demais dependências.
Estando nesse local, o apostolado social de frei Nereu em Londrina nasceu quase espontaneamente. Perto da então nossa paróquia Nossa Senhora de Lurdes havia a miserável favela do Grilo. Em reunião de pastores protestantes, funcionários da prefeitura de Londrina, decidiu-se aplicar um plano de reconstrução de casas. Este projeto empolgou frei Nereu e começou seu trabalho. Frei Nereu falava pela Rádio e Televisão pedindo ajuda para essa obra social, sendo atendido por inúmeros londrinenses Uma rádio local lhe ofereceu um espaço na hora do almoço e ele começou a fazer o “leilão da fraternidade”, pondo à venda vários objetos (livros, anéis, pinturas e outros). Trocou até o nome de “Vila do Grilo” por ‘Vila da Fraternidade”.
Em 1963 já tinha construído seis casas que, aos poucos, chegaram a 188 casas. Foram construídas também a igreja, escola, parque infantil, ambulatório e lavandaria pública, além da abertura de ruas e colocação da rede de água e luz elétrica. Conseguiu até voluntários alemães para trabalhar no desfavelamento da Vila. O nome de frei Nereu tomou-se conhecido e apreciado em toda a região. O jornal Folha de Londrina fez muitas publicações sobre essa obra de promoção humana de frei Nereu.
É interessante notar que a diretora do Banco Nacional de Habitação (Sandra Cavalcanti) esteve propositadamente em Londrina para falar com frei Nereu e ver sua obra. O Banco aproveitou da iniciativa de frei Nereu para lançar, em 1965, a campanha da construção de casas populares.
Festa de São Cristóvão
Aos 25 de julho de 1948, frei Nereu realizava na igreja Nossa Senhora da Luz em Irati, a festa e a primeira bênção de motoristas e veículos, considerada hoje a mais antiga do Brasil, constata pelos estudos do padre Mário Litewka, da Pastoral Rodoviária do Brasil. Em Curitiba, frei Nereu, autorizado pelo arcebispo D. Manoel da Silveira D’EI- boux, programou, pela primeira vez, a bênção de motoristas e veículos para 27.7.1952 (domingo), preparada por um tríduo. Na parte da manhã, bênção da estátua de São Cristóvão e solene missa com a presença de motoristas. À tarde, 1.500 veículos receberam a primeira bênção dos freis capuchinhos. Esta bênção continuou em ritmo crescente até 25 de julho de 1958, quando o arcebispo criou a paróquia São Cristóvão, na Vila Guaíra, para onde passou a bênção oficial dos carros. No entanto, os capuchinhos continuaram a atender aos muitos pedidos. Nos últimos anos, a bênção da primeira sexta-feira do ano, atrai até 30 mil pessoas e motoristas à igreja dos Capuchinhos nas Mercês.
Títulos
Frei Nereu recebeu diversos títulos: Cidadão honorário do Estado do Paraná às I5h de 23.9.1982 na Assembleia Legislativa, Cidadão Honorário de Londrina, de Irati, de Campo Magro (18.5.2000).
Imprensa
Os jornais do Paraná e alguns da Itália publicaram muitos artigos e entrevistas de frei Nereu. Com facilidade, teve acesso às TVs, rádios, empresas, faculdades, onde falava ou rezava missas. Em nosso arquivo provincial, temos mais de 80 recortes de jornais com reportagens ou entrevistas de frei Nereu.
Desde 1996 viveu no convento das Mercês, em Curitiba, dedicando- se às confissões, aconselhamento, visitas a doentes, ajuda a pobres. A partir de 2002 até seu falecimento, começou limitar suas atividades por causa de problemas de saúde. Em junho de 2006, por duas vezes esteve internado no Hospital Nossa Senhora das Graças, sendo obrigado a passar dias na UTI, onde veio a falecer. Segundo o certidão de óbito, frei Nereu faleceu aos 17.6.2006 de arritmia cardíaca, insuficiência cardíaca congestiva, hipertensão arterial e diabetes mellitus.
Às 15h de 17 de junho, foi celebrada missa de corpo presente na igreja das Mercês, presidida por frei Darci Roberto Catafesta (guardião do convento das Mercês) e mais 18 concelebrantes. À tarde desse mesmo dia, seu corpo foi transportado para Butiatuba, permanecendo exposto na capela do cemitério até o dia seguinte. Às 9h de 18.6.2006 (domingo), o Ministro Provincial (frei José Gislon) presidiu a missa exequial. Estiveram presentes freis das casas dos arredores de Curitiba, de Joinville e de Ponta Grossa, um bom grupo de pessoas de Campo Magro que, em gesto de gratidão, colocaram sobre o caixão a Bandeira de Campo Magro, acompanhando-o no sepultamento. Em sua homilia, o Ministro Provincial acentuou estes pontos:
“Frei Nereu se empenhou em toda sua vida em lançar as sementes de amor, de esperança e de confiança na misericórdia de Deus. Amava profundamente o povo das comunidades onde atuou, interessando-se pelos problemas que afligiam o povo, não só religiosos, mas também a falta de escola, de hospital e de moradia digna. Foi pessoa que viveu além do seu tempo, nos projetos que tinha. Procurava transmitir seu idealismo às pessoas nas comunidades. Demonstrou profundo amor à Província. Sonhou com uma grande Provinda. Trabalhou arduamente para construir casas de formação. Sempre se mostrou interessado pela caminhada formativa da Província. Não tinha medo do novo. Muitas vezes dizia que os tempos eram outros e precisava mudar. Sabia valorizar os gestos de bondade. Soube aceitar os limites da doença. Frei Nereu nos deixa para entrar na história de nossa Província e das comunidades onde trabalhou".